
Quando Heráclito falou que ninguém se banha no mesmo rio duas vezes, ele vinha de um momento em que todos os filósofos se preocupavam em saber qual era a essência da existência humana. Após uma sequência de teorias, que diziam ser o fogo, o ar, a água, a natureza, Heráclito disse: é a mudança. A vida é mudança.
A primeira frase da sinopse de “Tudo É Rio” diz: “Algumas vezes as mudanças acontecem na marra”. Porque, em última análise, o livro trata de mudanças que, na marra, moldaram a vida das pessoas. De três pessoas: Venâncio, um homem ciumento; Lucy, uma puta; e Dalva, uma mulher com um coração enorme.
Sangue, sêmen e lágrimas.
A história começa com uma cena radical: Venâncio, ao ver a mulher amamentando o filho recém nascido, joga a criança na parede e espanca a mulher. Carla Madeira, estreante literária de Belo Horizonte, reconstrói cada pequena nuance psicológica que levaram os personagens até ali, e nos pega pela mão para passear pelos próximos passos deles também.
Personalidades fortes em choque, numa prosa rápida, agressiva e extremamente concisa. Para valorizar a literatura nacional, para valorizar as mulheres escritoras, e para valorizar as boas histórias – leiam este livro.
P.S.: Li um comentário que problematizava a forma como a prostituição é tratada, romantizada e sem levar em conta as dificuldades reais que essa classe sofre. Realmente isso acontece, e acho um ponto super pertinente. Não acho que deixe de valer a leitura.