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Chegar aos 30 anos traz algumas reflexões, e uma delas é que as bandas que gostamos estão fazendo 10, 15, às vezes até 20 anos. A este ponto, é possível notar que a biografia delas muitas vezes acaba percorrendo um passo a passo semelhante.

Bandas em geral fazem sucesso com um tipo de música e refinam aquele estilo no álbum seguinte. Depois, sentem-se desafiadas a mudar, encontrar uma nova cara para chamar de sua. É nesse momento que algumas atrocidades são lançadas e, muitas vezes, as bandas acabam.

O Bring Me The Horizon faz parte de um seleto grupo que nunca chegou a lançar uma atrocidade. De uma banda super pesada, eles foram dosando a mão com o passar do tempo, a ponto de o álbum “amo” (2019) ser quase irreconhecível de tão melódico e tantos flertes com o pop/eletrônico.

Fiz este prólogo para dizer que, no “Post Human: NeX GEn”, o Bring Me The Horizon não se sentiu na necessidade de inovar. O simples esforço de contemplar todas as suas matizes, do mais pesado ao mais pop, já é mais do que suficiente para criar um álbum muito acima da média.

Conceito do “Post Human: NeX GEn”

“NeX GEn” é o segundo álbum da série POST HUMAN, no qual a banda traz essa mistura de rock pesado com eletrônica, que caracteriza suas duas principais facetas, para ilustrar o conceito de uma sociedade de humanos androides, com sentimentos conflituosos dentro de um corpo meio-robô.

Em meio a essa sociedade que parece ter dado errado, um romance ocorre pincelado a elementos de gore, que trazem essa ideia de sangue e vísceras expostas, e todos necessitando de uma medicina que faça esse sentimento ruim e caótico acalmar.

Veja o que o Oliver falou sobre o conceito:

It’s a real concept album, with a full narrative that connects to the first record, but the concept is hidden and buried. Some people aren’t going to be interested, but for some people it could be like a self-help book. There’s a lot of things in there, some of it’s quite clear, but a lot of it cryptic and hidden. People are gonna have to work it out.

Oli Sykes, via Rock Sound

Música a Música

“YOUtopia” é uma abertura com cara de abertura. Evoluindo aos poucos, ela mostra as guitarras pesadas, o refrão melódico e bastante letra para Oliver Sykes lembrar.

“Kool-Aid” joga a energia pro alto e mostra a faceta mais pesada da banda. Riffs de guitarra de tremer o chão, um vocal raivoso e uma letra que, em contraste, fala sobre amor e lágrimas, do jeitinho que gostamos.

“Top 10 staTues tHat CriEd bloOd” mantém a energia no máximo, mas com um pouco mais de letra e melodia.

“liMOusIne” é o primeiro feat do álbum e brinca com o contraste entre o peso do BMTH e a voz suave como uma pluma sobrevoando um cemitério da AURORA. Apesar dessa dialética bonita, a música parece sempre prestes a decolar, e não decola.

“DArkSide” a gente já conhece, assim como boa parte das músicas daqui pra frente. Ela é muito boa! “a bulleT w/ my namE On” conta com mais um feat de peso, a Underoath, e reinsere um ritmo alucinante à experiência do álbum, com aquela mistura que amamos de riffs de guitarra e efeitos eletrônicos.

Ao longo do álbum, temos três faixas de interlúdios que introduzem os diferentes momentos, são as faixas sinalizadas com [ost] no nome.

“n/A” é uma música calma como não me recordo de já ter visto o BMTH fazer. Em alguns momentos, me lembrou as melhores baladas do Green Day.

“R.i.p” é a faceta mais fortemente eletrônica da banda, que traz explícito o conceito de pós-humanidade, de uma sociedade de androides sociopatas.

“AmEN!” traz uma participação discreta do rapper Lil Uzi Vert para provavelmente a música mais pesada da sua carreira.

“DIg It” é aquele hino crescente pra fechar o álbum de forma memorável, trazendo em seus 5 minutos uma pincelada de tudo, do eletrônico ao rock, do conceito de pós-humano às letras emo, e de todas as nuances vocais do Mr. Sykes.

Conclusão: “Post Human: NeX GEn” tem de tudo e é tudo bom!

O que se pode dizer desse álbum é que ele é longo, com 16 músicas, e mesmo assim, todas as músicas são muito boas. Impressionante, não é?

O Bring Me The Horizon sabe exatamente o que fazer para ter um bom resultado, e eles vão lá e fazem, com a segurança que somente a maior banda da atualidade conseguiria ter.

As letras contam com 18 autores e a produção fica a cargo de Zakk Cervini, produtor de artistas como YUNGBLUD, 5 Seconds of Summer, All Time Low e Grimes.